60% dos paulistanos têm medo da PM, aponta Datafolha

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As polícias Civil e Militar despertam mais medo do que confiança na maioria dos paulistanos, segundo pesquisa Datafolha.

A desconfiança com os policiais, registrada em levantamento da semana passada na capital, representa uma piora em relação à pesquisa anterior, de junho de 2013.

Os números do Datafolha evidenciam o atual momento de desgaste na imagem das polícias, sobretudo a PM, que tem alguns de seus integrantes sob suspeita de participação em crimes como a chacina que, em agosto, deixou pelo menos 23 mortos em cidades da Grande São Paulo.

Atualmente, 60% dos paulistanos têm mais medo do que confiança na PM – eram 50% na pesquisa anterior, há dois anos, em meio às manifestações que tomaram as ruas de São Paulo pela redução da tarifa do transporte público e acabaram em confronto com policiais militares.

Além das chacinas, crimes como o assassinato à queima roupa por PMs de dois jovens que já estavam rendidos na zona oeste da capital, em setembro, podem ter contribuído na piora da avaliação.

O atual índice, contudo, é menor do que a desaprovação histórica (74%) verificada pelo Datafolha no primeiro semestre de 1997, quando o caso da Favela Naval, em Diadema (SP), ganhou repercussão nacional com imagens de policiais militares espancando, extorquindo e assassinando moradores do local.

Em relação à Polícia Civil, a imagem não é muito melhor: 55% dos entrevistados disseram temer os integrantes da corporação, o pior índice em 20 anos.

O temor às polícias Civil e Militar é generalizado entre os paulistanos, não importando a região da cidade onde eles vivem, o sexo e a faixa de renda. O quadro de desconfiança se mantém entre os mais escolarizados.

Quanto mais velho o entrevistado é, contudo, maior a confiança nos policiais.

Para quase um terço dos paulistanos, o medo provocado pelos policiais é igual ao dos bandidos. Entre os entrevistados, 49% disseram temer mais os bandidos, enquanto 21% responderam sentir mais medo dos policiais. Esse índice tem se mostrado estável desde o final da década de 1990.

Para especialistas, levará tempo para que a população mude sua percepção em relação às polícias. O principal caminho, dizem, é investir na formação de quadros mais qualificados nas corporações.

Segundo o sociólogo Álvaro Gullo, da USP (Universidade de São Paulo), a má imagem das polícias vem desde o final dos anos 1980, após a redemocratização do país.

“O problema básico é que falta treinamento adequado e preparação psicológica. A Polícia Militar é vista como violenta, a Polícia Civil, como corrupta”, disse.

O deputado Delegado Olim (PP), presidente da comissão de Segurança da Assembleia Legislativa de São Paulo, diz que, como delegado há 23 anos, vê com tristeza os números sobre desconfiança e medo da população.

Para ele, esse quadro só poderia ser revertido com muito trabalho.

“Mas está difícil isso, porque até as polícias estão brigando. Como vão mostrar um belo trabalho se as duas estão se matando?, indaga.

O deputado se refere a uma proposta em discussão na Câmara dos Deputados que pretende dar à PM a atribuição de investigar crimes, hoje exclusividade das polícias civis e federal. Os delegados são contrários a essa mudança.

PMMS

PESQUISA DE OPINIÃO, MOMENTO E VERDADE DOS FATOS

A matéria publicada no caderno Cotidiano do jornal Folha de São Paulo, nesta sexta-feira (6), sobre uma pesquisa do instituto Datafolha acerca da confiança dos paulistanos na Polícia, deixa inúmeros questionamentos. Cabe contestação!

O momento escolhido para a coleta de opiniões, logo após uma tragédia humana envolvendo maus policiais induz, de certo modo, um conceito a priori negativo. Some-se, a isso, a metodologia utilizada que não deixa claro o critério empregado e, pelo que parece, limita as respostas dos entrevistados ao extremo, ou seja, “confiar absolutamente” ou “não confiar”. Isso impede uma conclusão mais precisa sobre o efetivo nível de confiança.

A Polícia Militar é uma Instituição pautada no compromisso com a cidadania, constituindo-se num dos maiores sustentáculos da democracia no País e o maior órgão de defesa dos Direitos Humanos; todavia, é formada por pessoas que pertencem à sociedade na qual está inserida. Muitos daqueles que dizem temer a polícia incentivam a prática de não-conformidades em certas ações, indesejadas pela Instituição. Apesar disso, os eventuais maus policiais são implacavelmente punidos, comprovando-se os valores absolutos de legalidade que ela sustenta.

Apesar de questionar os resultados da pesquisa Datafolha, a Polícia Militar trabalha incessantemente para melhorar o relacionamento com a comunidade. Para tanto, encontra-se em fase de contratação uma pesquisa de opinião que permita aferir, com precisão, o índice de confiança no trabalho policial, a sensação de segurança e a de vulnerabilidade, com o objetivo de desenvolver ações específicas e de responsividade. O trabalho precisa ser desenvolvido de modo a não se deixar influenciar por momentos específicos ou perguntas e conclusões reducionistas, diante de um tema de grande complexidade.

O efeito da abordagem de episódios negativos envolvendo policiais certamente condiciona as respostas de alguns cidadãos, vez que não refletem com a devida racionalidade sobre o assunto. É natural que se fale da Polícia Militar e que se abordem as excepcionais intervenções irregulares, pois ela é a linha de frente da Segurança Pública no Estado. Por isso, é compreensível que seja alvo de críticas descabidas e longe da realidade dos fatos.

Ainda, não se podem questionar os números apresentados pelos valorosos policiais militares, com milhões de intervenções e milhares de salvamentos todos os anos. Em todo o Estado, mais de 4,5 milhões de pessoas acionam os serviços da Instituição todos os meses e, note-se, esse número vem aumentando. Essa é uma das mais inquestionáveis provas da confiança crescente no trabalho da PM.

A Polícia Militar vem melhorando continuamente seus processos e serviços e considera todas as opiniões e trabalhos técnicos que permitam extrair lições objetivas e verdadeiras. Contudo não se pode concordar com as conclusões tiradas de uma pesquisa com recorte temporal e metodologia questionáveis e sem identificação de pontos específicos do desejo social por uma polícia que atenda amplamente os seus anseios. O objetivo da pesquisa aparenta ser o de arranhar a imagem da Polícia Militar e, quanto a isso, não podemos silenciar.

 

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