O governo dos Estados Unidos conseguiu em 2015 avançar na agenda climática ao assinar o acordo sobre o clima em Paris, em dezembro, propondo compromissos de redução anteriores à assinatura do documento na França.
Mas, se por um lado houve avanço na questão climática, a administração do presidente Barack Obama não conseguiu dar uma resposta às questões de imigração e controle de armas no país – promessas de campanha do primeiro e segundo mandatos.
Na questão climática, Obama lançou neste semestre um plano de redução de emissão de gases das termoelétricas em 32% até 2030. O projeto foi enviado ao Congresso e encontra resistência entre parte dos republicanos, que afirmam que a redução vai gerar perda de empregos devido aos altos custos que a indústria terá.
É justamente o setor empresarial norte-americano o que mais atua junto ao Congresso para tentar impedir mudanças. Entretanto, o governo apostou em campanhas publicitárias e no conceito de segurança (tão importante para os norte-americanos) para conquistar apoio político, por meio da opinião pública.
O Plano Força Limpa, como é chamado um conjunto de medidas que o governo dos Estados Unidos veem implementando para tentar minimizar os efeitos climáticos, mostra os prejuízos enfrentados no país em situações causadas pelas temperaturas mais altas, como, por exemplo, a existência de furacões e tufões mais fortes e mais potencialmente destrutivos.
Mas, apesar de ter assinado o acordo global e de ter se comprometido quanto ao financiamento de fundos – estimados em 100 bilhões de dólares – a ação do país ainda não é clara.
O próprio presidente Obama deixou subentendido que o acordo era um passo importante, mas não perfeito. “Fizemos um excelente trabalho, mas sabemos que ainda não é suficiente”, afirmou depois da assinatura do documento em Paris.
O desafio da Casa Branca é manter o apoio do Congresso, especialmente agora, a menos de um ano das eleições presidenciais. O legislativo precisa aprovar as metas com as quais o governo se comprometeu externamente.
Um exemplo da dificuldade que será enfrentada diz respeito ao uso de fontes de energias fósseis. Estudos apresentados durante a Conferência do Clima revelaram que somente reduções drásticas e rápidas no uso de tais fontes poderiam viabilizar a meta de reduzir o aumento da temperatura abaixo de 2ºC.
Os Estados Unidos são o maior consumidor de petróleo do mundo e também o maior produtor. A transição para fontes de energia limpa requer tempo e alto investimento.
Reforma migratória paralisada
Em 2015, a reforma migratória proposta por Obama não avançou, embora a promessa de alavancar a votação da nova lei imigratória tenha sido uma das plataformas que o ajudaram a se reeleger com ajuda do voto latino.
Mas, com o Congresso de maioria republicana, a última ação do governo foi o anúncio das medidas que o governo planeja implementar, mas ainda em dezembro de 2014. Na época, Obama prometeu medidas de proteção relacionadas à deportação, o que representaria um “alívio” para pelo menos 5 milhões de imigrantes que vivem sem documentação no país.
Entretanto, líderes dos republicanos consideraram a proposta ilegal e há ações na Suprema Corte para dar um parecer sobre o plano.
Enquanto isso, as deportações continuam, especialmente para a comunidade hispana, sobretudo, os mexicanos. Cada estado, e até mesmo condados (regiões administrativas), tendem agir de maneira independente. Na Georgia, Sudeste dos Estados Unidos, há deportações no condado de Cobb, mas o mesmo não acontece em Fulton (onde está localizada parte de Atlanta).
Sem uma definição do Congresso e sem a resposta judicial, a migração foi postergada mais um ano e novamente é tema da disputa política entre republicanos e democratas, em plena campanha presidencial. De um lado, Hillary Clinton encabeçando os pré-candidatos democratas. Ela está prometendo anistia para os ilegais.
Na outra ponta, os republicanos divididos entre o radicalismo do multimilionário Donald Trump, que declarou querer deportar mexicanos e demais latinos, além de terminar a construção do muro que divide o México e Estados Unidos.
O pré-candidato também usa o viés migratório para tocar em um dos pontos mais delicados para o eleitorado – a questão da imigração e da vulnerabilidade. Trump começou a defender que a entrada de muçulmanos seja proibida no país, bem como o funcionamento de mesquitas, como medida para evitar ataques terroristas.
O candidato já foi criticado pelo governo Obama e pela própria comunidade muçulmana, por considerar que este tipo de pensamento só alimenta radicais como o grupo extremista Estado Islâmico (EI).
Mesmo assim, o discurso de Trump agrada e ele cresce entre os republicanos, deixando para atrás representantes do voto latino mais conservador, como o senador Marco Rubio e Jed Bush, irmão do ex-presidente George W. Bush.
Rubio e Bush, ambos da Flórida, defendem uma reforma migratória e dizem que é preciso rever a questão, mas não fazem promessas tão amplas quanto Clinton, que mantém o discurso de Obama.
Tiroteios sem controle
O presidente Barack Obama admitiu este ano que sua maior frustração ao longo de quase dois mandatos à frente da presidência dos Estados Unidos foi a de não ter conseguido aprovar no Congresso uma lei que determine um maior controle de armas.
Os dois últimos incidentes registrados foram no fim deste ano em San Bernadino, Califórnia. Um casal de imigrantes muçulmanos foi responsável por um massacre que deixou 14 mortos, e, uma semana antes, no final de novembro, um atentado deixou três mortos e vários feridos em uma clínica que realizava abortos no Colorado.
Depois disso, o presidente Obama voltou a defender o controle de armas. E questionou novamente até quando o país vai permitir que isso aconteça.
De acordo com levantamento feito pelo jornal Washington Post, só entre janeiro e outubro de 2015 foram registrados 294 massacres com armas de fogo nos Estados Unidos, 45 deles em instituições de ensino.
Obama admitiu que motivações políticas, religiosas, passionais, por crimes de ódio e racismo – como o cometido pelo jovem Dylann Roof, 21 anos, acusado da morte de nove pessoas após abrir fogo em uma Igreja histórica para o movimento dos direitos civis em Charleston, na Carolina do Norte – ocorrem, mas a facilidade do acesso às armas se torna um perigo e dificulta o combate a esse tipo de crime.
O número de vítimas em 2015 foi superior a 380 pessoas e mais de mil feridos. Enquanto os crimes continuam, a sociedade civil tenta convencer a população a não usar armas de fogo e a não andar armada. Mas comprar uma arma é um direito de qualquer cidadão nos Estados Unidos e usá-la para se proteger é algo garantido pela Constituição do país.
Amparado na lei, na cultura e no lobby da indústria bélica, o desafio para mudar a legislação é grande e, ao que parece, pode mesmo terminar como uma das frustrações da era Obama na Casa Branca.
Agência Brasil