Israel Giron Arguelho Carvalho foi preso em agosto, mas respondia o processo em liberdade desde setembro. O policial negava a autoria do crime e foi encontrado morto em casa nesta terça-feira, em Campo Grande.
Uma jovem de 24 anos que denunciou um policial militar de 30 anos por estupro revelou que foi ameaçada ao procurar a Delegacia de Atendimento às Mulheres (Deam) e, devido às ameaças, precisou mudar-se para outro estado. O policial Israel Giron Arguelho Carvalho foi encontrado morto com um tiro na cabeça em sua casa na terça-feira (17).
O estupro ocorreu no dia 8 de agosto, no Jardim Noroeste. A vítima, que trabalhava como frentista em um posto de gasolina, foi abordada por um homem quando voltou para casa após o expediente. O agressor ameaçou com uma arma, o que a deixou incapaz de resistir ao abuso. Após o estupro, o suspeito fugiu, deixando uma vítima no local. Ela registrou a placa do veículo e informou seu chefe no posto de gasolina, que acionou a polícia. A Deam conseguiu identificar o policial como dono do carro e, cinco dias depois do estupro, ele foi preso e reconhecido pela vítima.
Após a prisão, a vítima alegou ter sido ameaçada por outros policiais e teve seu celular descoberto por eles. Por medo de retaliações, ela mudou-se de Campo Grande, onde morava há um ano, retornando para sua cidade natal.
O policial sempre negou ser o autor do estupro. Segundo a defensora dele, Alana Oliveira Mattos Boiko de Figueiredo, ele foi afastado da função e recebeu tratamento psicológico após solicitação para responder ao processo em liberdade. A advogada afirmou não saber qual fator desencadeou o suicídio do policial, já que, em sua visão, o processo estava progredindo bem.
A Delegacia-Geral da Polícia Civil (DGPC) de Mato Grosso do Sul emitiu uma nota na qual alegações de que o laudo do Instituto de Medicina e Odontologia Legal (Imol) não confirmou que houve agressão sexual. Entretanto, outras provas, como a presença de sêmen da mesma pessoa nos pertences da vítima e imagens de câmeras de segurança, corroboram a denúncia de estupro. O inquérito policial foi finalizado e encaminhado ao Poder Judiciário.
A advogada do acusado contesta as provas apresentadas pela DGPC, alegando desconhecimento das informações mencionadas na nota da polícia.
Confira a nota da Polícia Civil na íntegra:
A Polícia Civil lamenta profundamente a morte do policial militar I.G.A.C., de 32 anos, e nos solidarizamos com a família e amigos neste momento de dor.
Quanto aos questionamentos levantados sobre as investigações feitas pela 1ª DEAM (Delegacia Especializada de Atendimento à Mulher), no caso em que apura o crime de estupro praticado, em tese, pelo policial militar contra uma mulher de 24 anos em Campo Grande-MS, no dia 08/08/2023, informa que os fatos foram devidamente apurados, tendo o Inquérito Policial sido finalizado com mais de 300 páginas, contendo vasto material probatório, sendo relatado em 07/09/2023 e encaminhado ao Poder Judiciário.
O trabalho investigativo teve início logo após o registro do Boletim de Ocorrência. Pela placa do veículo verificou-se que o carro estava alugado para I.G.A.C. e, posteriormente, constatou-se que se tratava de um policial militar, que nas folgas trabalhava como motorista de aplicativo. Em consulta aos sistemas policiais, verificou-se o trajeto feito pelo carro, além de terem sido apreendidas imagens de câmeras de segurança, que atestaram que o suspeito esteve nos locais indicados pela vítima.
Foram ouvidas testemunhas, apreendido o celular da vítima e diante do material colhido, no dia 10/08/2023 representou-se pela busca no veículo e pela prisão, que foram concedidas pelo Poder Judiciária no mesmo dia, diante da materialidade e da justa causa do crime comprovada por inúmeras provas nos autos. Tanto o mandado de busca quanto o de prisão foram cumpridos no dia 11/08/2023, e em seguida ele foi encaminhado ao presídio militar. No carro do suspeito foi encontrado o relógio da vítima, que em todos os depoimentos prestados manteve a versão inicial, não apresentando qualquer controvérsia em relação às versões anteriores. De acordo com a vítima, ela não conhecia e não tinha qualquer envolvimento com o suspeito e que foi obrigada a manter relação sexual com ele mediante ameaça, não havendo violência física, mas coação, por apresentação de arma de fogo, do tipo pistola.
Além disso, na calcinha da vítima e na roupa dela foram coletados sêmen, que foram confrontados com o material do suspeito e os exames atestaram ser da mesma pessoa, no caso, ou seja, produzidos por I.G.A.C. Os dois celulares do suspeito também foram apreendidos.
A vítima passou por exame de corpo de delito, que constatou que houve conjunção carnal (penetração), sem a utilização de preservativo, o que possibilitou a coleta do material genético. Não houve dilaceração (lesão) na vagina da vítima porque ela não sofreu agressão física e também não era mais virgem.
Ressaltamos que todo o procedimento de Polícia Judiciária foi realizado com profissionalismo, isenção e idoneidade, com o único objetivo de apurar rigorosamente os fatos, para não cometer nenhum tipo de injustiça com quem quer que fosse. Salientamos ainda que em nenhum momento a Polícia Civil teve a intenção de expor o policial, macular sua carreira ou causar qualquer dano à sua vida.