A jovem conheceu um albanês durante uma viagem de férias feita na companhia da mãe pela Grécia. A paixão repentina se transformou em uma trágica história de trabalho sexual forçado, que durou seis anos.
Uma simples viagem de férias com a mãe pela Grécia ficou marcada na vida da britânica Megan Stephens*, 25 anos, como o início de uma longa e dramática história de tráfico sexual. Aos 14 anos, ela foi vendida como escrava e forçada a trabalhar como prostituta por seis anos. O responsável? Um homem por quem havia se apaixonado. Em seu livro de memórias “Bought and Sold” (comprada e vendida), ela dá detalhes do ocorrido e alerta meninas e mulheres sobre um problema que atinge milhões de pessoas no mundo todo.
Segundo reportagem da “Marie Claire”, filha de pais separados e alcoólatras, Megan estava “desesperada para ser amada”. Na primeira noite de passeio pelo litoral grego, em um bar local, ela chamou a atenção de Jak, um bonito rapaz albanês de 22 anos, que foi imediatamente correspondido pela garota. Em poucas semanas, Megan já havia convencido a própria mãe a não voltar para a Inglaterra para que pudesse viver ao lado do novo namorado.
No início, Jak era atencioso e gentil, apesar da barreira da linguística, que possibilitava a troca de poucas palavras entre eles. Mas, segundo Megan, o caso começou por pura ingenuidade. “Ele me tratou muito bem”, contou. “Acreditei. Eu o amava e ele me amou de volta imediatamente. Jak era realmente encantador.”
Porém, à medida que o tempo passou, o “charme” se transformou em controle. O humor do rapaz mudava sem aviso prévio. Jak começou a falar sobre como sua mãe estava doente por conta de um câncer e da necessidade de mais dinheiro para o tratamento. Ele revelou o desejo de ter filhos com Megan e de ambos viverem em uma bela e grande casa no futuro. Mas para isso teriam que se mudar para Atenas, onde seus primos poderiam oferecer a ela um trabalho em um café. Megan concordou, mesmo que isso significasse deixar a mãe para trás.
Assim que chegou à nova cidade, Megan encontrou-se às mercê de uma rede de cafetões e traficantes. No início, ela não fazia muita ideia do que estava acontecendo. Foi convencida a trabalhar como dançarina fazendo topless em um bar, com a promessa de que aquilo só duraria até que a cirurgia de sua sogra fosse paga. Apesar de odiar aquela situação, ela admite ter se sentido como “uma heroína” que poderia salvar a vida da mãe do namorado.
Duas semanas depois, Jak a levou até uma lanchonete, onde a apresentou a um homem chamado Leon. “Este é seu novo chefe”, disse. Os rapazes conversaram em grego por um tempo e trocaram algumas cédulas de dinheiro. Megan havia sido vendida ao traficante. “Então, você sabe o que está indo fazer, não é? E está feliz com isso?”, questionou Leon. Ela imediatamente olhou para Jak que a confortou: “Eu te amo. Está tudo bem.”
Jak, em seguida, levou a garota até um edifício comercial e a pediu para se dirigir ao último andar. “Lembro-me de subir as escadas tremendo e tropeçando, senti algo muito estranho.” Um homem abriu a porta, a levou até um pequeno quarto sem janela, onde tinha uma cama de solteiro. Ao pé, havia uma câmera de vídeo montada sobre um tripé. “Foi isso. Ele me estuprou e filmou tudo”, contou. “Eu estava tão assustada e convencida de que ele ia me matar, que só fiquei fazendo pequenos gemidos, choramingando como um animal derrotado e submisso”, disse em relato ao Daily Mail. Com o sangue ainda no lençol, o homem lhe deu um maço de notas que somavam 50 euros. Foi a primeira vez que ela havia tido relações sexuais.
Daí em diante, Megan passou a fazer sexo com estranhos por dinheiro – “atendia até oito clientes por dia”. Contudo, o drama de Megan estava apenas começando. Convivendo com todo tipo de violência física e psicológica e ameaça de matarem sua mãe a jovem ficou grávida aos 14 anos e obrigada a oborta após tomar socos na barriga do namorado violento.
Durante o período que passou na Itália, o cafetão que comprou Megan de Jak a colocou para trabalhar em bordeis, onde homens pagavam 20 euros para ter cinco minutos de sexo. No final da primeira noite, Megan tinha mantido relações sexuais com 50 clientes. “Em uma ocasião, fui estuprada por 110 homens em 22 horas”, escreveu em seu livro. “O dono do bordel fechou o estabelecimento cedo diante do meu estado. Eu estava violentamente doente. Cheguei a achar a atitude dele bem digna. Isso só mostra o quão distorcido estava o meu senso de normalidade.”
Pertendendo a um terceiro cafetão, ela continuou trabalhando como prostituta e acompanhante. Em contatos esporádicos que fazia por telefone com a mãe, era obrigada a dizer que estava tudo bem. Mas, na verdade, convivia com violência física diária, além de uma série de doenças sexualmente transmissíveis. Megan contraiu sífilis e salmonela seis vezes, após ter sido forçada a transar sem camisinha para ganhar um dinheiro extra.
Depois de trabalhar nas ruas e bordeis de várias cidades cidades europeias, a jovem só conseguiu escapar dos traficantes aos 20 anos, após uma tentativa de suicídio. Passou três meses no hospital, onde conseguiu confiar toda sua história aos funcionários. A equipe logo entrou em contato com sua mãe, que já não fazia ideia do paradeiro da filha.
De volta à inglaterra, hoje Megan tenta reconstruir sua vida pouco a pouco e tem a ambição de criar uma instituição de apoio a outras vítimas de tráfico sexual. Segundo as Nações Unidas, cerca de 2,4 milhões de pessoas ao redor do mundo são vítimas de tráfico humano. Desse total, 80% se torna escravo sexual. Uma mulher pode ganhar de um traficante entre 500 e 1.000 libras por semana, assim como pode ser forçada a ter sexo com múltiplos parceiros em um único dia.
Depois que voltou ao seu país de origem, Megan confessa ter entrado em contato com o ex-cafetão. “Porque eu realmente me apaixonei por ele. Mas olho para trás e me sinto horrível. Fui treinada para isso.” Agora, grávida do primeiro filho, ela se diz feliz e realizada ao lado de seu parceiro. “É a primeira vez que realmente me entrego a alguém. Tem sido incrível e me ajudado muito. Estar grávida tem sido muito importante. Tem me feito sentir normal e capaz, porque terei uma responsabilidade.”
Mas ainda assim, precisa lidar com vários fantasmas do passado. “Jak tem tentado entrar em contato comigo e com minha família através das redes sociais, procurando descobrir onde estou. Ele ainda me assusta”, conta.
*Os nomes usados na reportagem são fictícios