A Santa Casa de Campo Grande, uma das instituições de saúde mais importantes de Mato Grosso do Sul, enfrenta uma crise profunda e multifacetada. Problemas como desabastecimento de medicamentos e insumos, atrasos nos salários de profissionais e fornecedores, paralisação de setores e serviços essenciais, uso de materiais não padronizados e falhas no serviço de neurocirurgia têm impactado diretamente a qualidade do atendimento e a assistência aos pacientes. Este artigo busca analisar esses problemas com base em informações apuradas pelo NAES (Núcleo de Apoio Especial à Saúde) e no inquérito civil aberto pelo Ministério Público (MP), além de discutir as implicações desses desafios para a saúde pública na região.
Um dos problemas mais graves enfrentados pela Santa Casa é o desabastecimento de medicamentos e insumos. A falta desses recursos essenciais compromete a realização de procedimentos médicos e o tratamento adequado dos pacientes. Esse desabastecimento está diretamente relacionado à crise financeira da instituição, que não consegue honrar seus compromissos com fornecedores. A falta de planejamento e gestão eficiente também contribui para a escassez de recursos, agravando a situação.
Os atrasos nos salários de profissionais de saúde e fornecedores têm gerado insatisfação e desmotivação entre os funcionários. Esse cenário tem levado à paralisação de setores críticos, como ortopedia, cirurgia plástica, cirurgia vascular e urologia. A interrupção desses serviços resulta em longas filas de espera e na desassistência de pacientes que dependem de cirurgias eletivas e tratamentos especializados. A falta de recursos humanos qualificados e a rotatividade de profissionais agravam ainda mais o problema.
Outro ponto crítico é o uso de materiais não padronizados, que pode comprometer a segurança e a eficácia dos procedimentos médicos. A falta de padronização pode estar relacionada à necessidade de cortes de custos, mas essa prática coloca em risco a saúde dos pacientes e a credibilidade da instituição. A adoção de materiais inadequados também pode resultar em complicações pós-operatórias e aumentar os custos com tratamentos adicionais.
O serviço de neurocirurgia é um dos mais afetados pela crise na Santa Casa. Conforme apurado pelo NAES, o serviço atualmente é terceirizado e prestado por uma empresa contratada por outro estado. No entanto, o contrato não está sendo cumprido integralmente. Enquanto a previsão é de quatro médicos plantonistas durante o dia, apenas dois estão presentes. Além disso, os médicos neurocirurgiões que prestam serviço não residem em Campo Grande, o que dificulta o vínculo com os pacientes e prejudica a continuidade do atendimento.
O NAES destacou que o contrato anterior, com médicos locais, era menos oneroso e funcionava de forma mais eficiente, já que os profissionais eram melhor qualificados e tinham maior comprometimento com a instituição e os pacientes. A atual situação tem resultado em desassistência e comprometido a qualidade do atendimento na área de neurocirurgia.
A crise na Santa Casa de Campo Grande tem implicações graves para a saúde pública na região. A desassistência de pacientes, a paralisação de serviços essenciais e a falta de recursos humanos e materiais comprometem o acesso à saúde e a qualidade do atendimento. A população mais vulnerável, que depende exclusivamente do SUS, é a mais afetada por esses problemas.
Diante da gravidade da situação, o Ministério Público abriu um inquérito civil para investigar os problemas apontados pelo NAES. A reunião entre o NAES, a Santa Casa, as Secretarias de Saúde e o Conselho Regional de Medicina corroborou as reclamações e evidenciou a necessidade de intervenção urgente. O MP tem atuado para garantir que a Santa Casa cumpra suas obrigações e ofereça um atendimento de qualidade à população.