Uma reflexão sobre o noticiário dos últimos dias em Campo Grande nos leva a crer que a administração municipal passa por uma espécie de síndrome da “Alice no País das Maravilhas” enquanto a população experimenta um cenário digno de películas como o “Dia Seguinte”. Os meios de comunicação da prefeitura dão imenso destaque à viagem de uma semana ao que será a Rota Bioceânica.
Um servidor municipal publica uma “inevitável” fotografia em suas redes sociais festejando a transposição da Cordilheira dos Andes, enquanto a principal dirigente municipal assume a “presidência” de uma certa associação da Rota de Integração Latinoamericana. Um secretário municipal acompanha em uma potente caminhonete todo o percurso, certamente para trazer inovação para a capital. Apesar de questionada por “O Estado Diário” a prefeitura não deixou claras quais seriam essas vantagens. Na comunicação da gestão tudo parece estar às mil maravilhas, não é mesmo?
Não, não está. Enquanto a prefeitura “colava no rolê” da expedição de empresários e do governo do estado para a promoção daquilo que pode vir a ser uma grande oportunidade para a região e para os negócios que venham a se instalar no estado, a população de Campo Grande passa por agruras que nada têm a ver com oportunidades. Ruas alagadas, lama por toda parte, árvores caídas impedindo a mobilidade, ônibus impossibilitados de circular por ruas enlameadas deixando a população à própria sorte é o que vemos em qualquer noticiário sobre a cidade nos últimos dias. Nenhuma maravilha palpável se vê por aqui.
A prefeitura até que tenta, iluminou a cidade para o Natal, uma pena a maioria das lojas da área iluminada estar fechada, mas isso é detalhe. As ruas até estão bonitas e devemos parabenizar os artistas que conceberam a decoração natalina. Entretanto, a iluminação festiva só faz iluminar as enormes crateras que vemos por toda a parte. Motoristas campo-grandenses mostram-se verdadeiros ases no volante as desviar dos buracos, poderiam protagonizar sem dificuldade um episódio de “Velozes e Furiosos” tal o treinamento que praticam no dia a dia da cidade.De volta da viagem, a prefeita vem e anuncia um adicional aos auditores da receita municipal que podem chegar a ter salários de R$ 70.000 por produtividade, leia-se: um prêmio por arrecadar mais e mais impostos dos munícipes. Categorias como enfermeiros que estão no dia a dia em contato com a população mais sofrida nos postos de saúde, denunciam infraestrutura precária, falta de insumos básicos para os tratamentos dos pacientes e atraso no pagamento de suas horas extras. Dois pesos e duas medidas, afinal arrecadar mais para pagar iluminação de Natal é mais importante do que tratar com dignidade os usuários da saúde pública. É uma questão de prioridade e a prefeitura fez sua opção.
Agora, nesses tempos de festa e congraçamento entre as famílias a emoção domina nossos corações, a prefeitura entende isso e vai nos brindar com o “transbordamento de fofura” que será o nascimento de uma rena, animal típico da região, de isopor. O transbordamento dos córregos pode ficar pra depois, um plano de drenagem para a cidade pode esperar passar toda essa emoção que vem pela frente.Na favela do Mandela e nas outras cerca de 40 favelas espalhadas pela cidade a população também se emociona, caso a internet funcione, podem assistir Ghost ou Caça Fantasmas, boas referências a uma certa “folha secreta” de que falam pelas ruas arrasadas da cidade.