Subnotificação alerta para possível nova onda de doenças respiratórias em MS
Dados recentes do Centro de Informações Estratégicas em Vigilância em Saúde (Cievs), da Secretaria Municipal de Saúde de Campo Grande (Sesau), revelaram que, nas primeiras semanas deste ano, foram registrados 259 casos de síndrome respiratória aguda grave (SRAG) na capital.
Por sua vez, o boletim epidemiológico de influenza e doenças respiratórias da Secretaria de Estado de Saúde (SES) informou que foram notificados 475 casos de SRAG hospitalizados em Mato Grosso do Sul neste ano. Embora esse número seja menor do que o registrado no mesmo período do ano passado, os especialistas em infectologia alertam para a importância de manter a vigilância.
“A diversidade de vírus em circulação nos preocupa. No ano passado, houve predominância em crianças a partir de março e de Covid-19 em outros períodos. Portanto, é temeroso pensar em um baixo número de casos sem tomar as medidas preventivas necessárias”, explica a médica infectologista Mariana Croda.
Comparando os dados das primeiras semanas de 2023, o Cievs de Campo Grande relatou 445 casos de SRAG, quase o dobro do número registrado no mesmo período de 2024. Além disso, o número de casos de síndromes gripais neste ano, 8.014 até o momento, também é inferior ao registrado no ano anterior, que foi de 16.751.
Apesar da redução significativa em comparação com 2023, o médico infectologista Julio Croda ressalta que o número ainda é consideravelmente alto. Ele observa que muitas pessoas são hospitalizadas, especialmente aquelas pertencentes a grupos considerados vulneráveis ou que não estão com o esquema vacinal atualizado.
Um fator que pode explicar os números mais baixos é a subnotificação. Os especialistas em infectologia apontam que atualmente há uma baixa procura por testagem para síndromes gripais, escassez de testes rápidos nas unidades do Sistema Único de Saúde (SUS) e um aumento no uso de autotestes, o que pode levar a casos não notificados.
“É por isso que não podemos comparar os dados atuais com os do período pandêmico, quando havia uma maior procura pelo diagnóstico”, ressalta Mariana.
Julio Croda acrescenta que a subnotificação está principalmente relacionada a casos de síndromes gripais, já que a SRAG tem notificação compulsória, ou seja, todos os pacientes com casos graves devem ser testados e notificados.
Os médicos infectologistas também observam que nos últimos anos as infecções respiratórias perderam a sazonalidade clássica, ocorrendo em qualquer período do ano. Esse padrão poderá ser observado nas próximas semanas.
O último boletim InfoGripe, da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), coloca Mato Grosso do Sul entre os estados com probabilidade de crescimento de mais de 75% nos casos de SRAG. Um dos fatores para esse possível aumento é o período de festividades.
“Geralmente, após o Natal e o Carnaval, observamos um aumento de casos, associado à maior atividade de aglomeração e viagens”, comenta Julio Croda.
Os especialistas em infectologia alertam que os casos graves ocorrem principalmente em idosos, crianças pequenas e pessoas imunossuprimidas ou com doenças crônicas, que devem estar atentas ao risco de infecção e complicações.
“Muitas medidas podem ser tomadas, mas a principal delas é a vacinação contra vírus e bactérias que causam pneumonias”, destaca Mariana. “Após o início da síndrome gripal, ainda existem medicamentos antivirais contra influenza e Covid-19 que podem minimizar as chances de complicações nessas populações.”
Nelson Fonseca da Silva Feitosa, de 58 anos, experimentou a evolução da gripe para pneumonia recentemente. No final de janeiro, ele apresentou sintomas de Covid-19, mas o teste em farmácia deu negativo. Após se medicar para a gripe, seus sintomas desapareceram, mas o cansaço aumentou, levando-o a buscar ajuda médica e a receber o diagnóstico de pneumonia.
Atualmente em tratamento domiciliar, Nelson destaca a importância de manter as vacinas atualizadas e relata que sua esposa, de 51 anos, e seu neto, de 7 anos, também apresentaram os mesmos sintomas.
Já Nelson Júnior, de 43 anos, teve Covid-19 neste ano, mas, devido à sua vacinação completa, está se recuperando com medicação. Após apresentar sintomas, ele procurou atendimento médico e recebeu o diagnóstico positivo para Covid-19.
A preocupação com o aumento dos casos de doenças respiratórias e a necessidade de medidas preventivas e cuidados redobrados são temas centrais no cenário atual da saúde pública em Mato Grosso do Sul.
Com informações do Correio do Estado