Pouco menos de sete quilômetros separam o Palácio do Planalto do hotel onde o ex-presidente Lula tem feito reuniões de articulações políticas desde que teve sua nomeação suspensa à Casa Civil. Suspeito na Lava Jato e impedido de colocar os pés no Planalto, o petista recebeu ali, nos últimos dias, ministros e dirigentes de partidos, além de deputados e senadores da deficitária base do governo no Congresso.
“Nunca pensei que a situação estivesse tão crítica”, afirmou ele, numa referência às “demandas represadas” dos aliados. “Estamos comendo o pão que o diabo amassou”.
Segundo o Estadão, a suíte onde Lula costuma se hospedar, em Brasília, foi transformada em uma espécie de quartel-general do em prol da presidente Dilma Rousseff. O hotel é o mesmo onde ficava o senador Delcídio Amaral (ex-PT-MS), que ali foi preso pela Polícia Federal, acusado de atrapalhar as investigações da operação.
Na última quinta-feira (30), antes de voltar para São Paulo, o ex-presidente se encontrou com o senador Fernando Bezerra Coelho (PSB-PE), que foi ministro da Integração no governo Dilma. Partido do ex-governador de Pernambuco Eduardo Campos, morto em 2014, o PSB passou para a oposição, sob o argumento de que Dilma “perdeu a credibilidade e a capacidade de governar”.
Lula, então, buscava “pescar” votos avulsos por ali. Pela sua contabilidade, o PSB poderia contribuir com “uns seis ou sete votos” de um total de 31. O PMDB, mesmo fracionado, teria “potencial” para dar a Dilma cerca de 35 dos 68 votos da bancada.
A ministra da Agricultura, Kátia Abreu (PMDB), deve sair da equipe, segundo o desejo de Lula. Dilma, ao contrário, resiste porque Kátia é sua amiga, mas ele avalia que a ministra não tem como conseguir apoio para a presidente. Na avaliação do ex-presidente, Dilma precisa lançar com urgência medidas para pôr “dinheiro na mão do pobre”. Ele se irritou com o ministro da Fazenda, Nelson Barbosa, para quem essas iniciativas já estão em andamento. “Então vocês precisam se comunicar melhor porque, se eu não sei, ninguém sabe”, disse Lula.
Durante muitos dias, Lula ainda pleiteou um acordo com o vice-presidente Michel Temer, antes do encontro do PMDB que selou a ruptura com o governo. Esperou bastante tempo e, quando finalmente conseguiu falar com Temer, fracassou na missão. “A presidente nunca quis me ouvir”, retrucou o vice.