Em meio à crise financeira que afeta a Santa Casa de Campo Grande, o Governo de Mato Grosso do Sul anunciou, nesta quinta-feira (3), o repasse de R$ 25 milhões para socorrer a instituição. Durante reunião com autoridades estaduais, municipais, parlamentares e representantes do hospital, o governador Eduardo Riedel (PSDB) cobrou uma reestruturação profunda na gestão da unidade, destacando a necessidade de mudanças estruturais para evitar recorrentes situações de emergência. Ele também apontou que o Hospital Regional de Mato Grosso do Sul (HRMS), administrado pelo Estado, enfrenta desafios semelhantes e igualmente demanda reformas.
Segundo o governo estadual, a saúde na capital sul-mato-grossense recebe mais de R$ 1 bilhão anuais em investimentos. Para viabilizar o novo aporte à Santa Casa, que enfrenta um déficit mensal de R$ 13 milhões, os R$ 25 milhões foram garantidos pela bancada federal e remanejados pela Secretaria de Estado de Saúde (SES) a partir de outros projetos. “Agradeço à bancada federal por viabilizar esses recursos. Mas é essencial uma mudança no modelo de gestão, uma transformação estrutural”, frisou Riedel.
Repasses chegam a R$ 50 milhões em menos de um ano
O montante será liberado em três parcelas de R$ 8,3 milhões, entre abril e junho, com o objetivo de suprir a falta de medicamentos e materiais essenciais, que têm comprometido os serviços da Santa Casa. O secretário de Saúde, Maurício Simões, explicou: “Esse recurso visa garantir a assistência hospitalar, principal missão do hospital, que está prejudicada pela escassez de insumos.”
Na semana passada, em 28 de março, o governo já havia sinalizado esse repasse. Somado a outros aportes recentes, como os R$ 15 milhões liberados em outubro de 2024 e os R$ 9 milhões extras para o décimo terceiro no fim do ano passado, o total destinado à Santa Casa ultrapassa R$ 50 milhões em poucos meses. “Estamos tentando antecipar soluções para crises como a atual”, destacou Simões.
Dívidas em negociação e reunião com ministro
A senadora Soraya Thronicke (PODE-MS), coordenadora da bancada federal, anunciou que novos encontros estão agendados para buscar alternativas ao déficit crônico do hospital. Na próxima semana, uma reunião com o ministro da Saúde, Alexandre Padilha, em Brasília, deve discutir o tema. Entre as medidas em pauta, está a renegociação de uma dívida de R$ 80 milhões em juros cobrados pela Caixa Econômica Federal, herdada pela atual gestão da Santa Casa.
Justiça suspende cobrança à prefeitura
No mesmo dia 28, o Tribunal de Justiça de Mato Grosso do Sul (TJMS) suspendeu uma decisão que determinava à Prefeitura de Campo Grande o repasse imediato de R$ 46 milhões ao hospital. A ordem, emitida pelo desembargador Sérgio Fernandes Martins, evitou o bloqueio judicial de valores municipais, que poderia ocorrer caso o prazo inicial se esgotasse. A prefeitura argumentou que o pagamento comprometeria serviços essenciais, incluindo os da saúde, o que foi acolhido na decisão.
Crise exposta em números
Em audiência na Assembleia Legislativa, no dia 17 de março, a Santa Casa revelou um déficit mensal de R$ 13,23 milhões, equivalente a R$ 158,85 milhões por ano. A direção atribui o colapso à falta de reajustes financeiros desde 2022 e à expiração do contrato com a prefeitura em 2024, ainda em fase de renegociação. O hospital também aguarda verbas federais da pandemia, reconhecidas judicialmente, mas pendentes de liberação no Superior Tribunal de Justiça (STJ).
Na terça-feira (25), a Santa Casa obteve na Justiça uma determinação para o repasse de R$ 46 milhões, mas alertou que, sem soluções definitivas, os atendimentos correm risco de paralisação total.