Segundo um levantamento realizado pela Comissão Pastoral da Terra (CPT), em parceria com a Campanha Nacional em Defesa do Cerrado e pesquisador da Fundação Oswaldo Cruz (FioCruz), foi constatada a contaminação por agrotóxicos em diversas localidades do Cerrado brasileiro. Um dos locais refugiados é o assentamento Eldorado II, em Sidrolândia, região central do Mato Grosso do Sul, onde vivem cerca de 700 famílias.
O estudo analisou amostras de água coletadas entre novembro de 2022 e fevereiro de 2023 no assentamento Eldorado II. Foram encontrados três ingredientes ativos de agrotóxicos nas amostras: 2,4-D, atrazina e glifosato. Dois desses ingredientes são ativos classificados como tendo grande potencial cancerígeno pela Agência Internacional de Pesquisa em Câncer da Organização Mundial da Saúde (Iarc/OMS).
O 2,4-D é considerado um possível carcinógeno humano, estando relacionado ao relacionado a cânceres como LNH (linfoma não Hodgkin), sarcoma (câncer nos ossos e nas partes moles), câncer de cólon e leucemia. O glifosato, por sua vez, está associado ao desenvolvimento de câncer de próstata, linfoma não Hodgkin, LNH e leucemia. A atrazina, que é proibida na União Europeia devido à sua toxidade e à desregulação endócrina, também foi encontrada nas amostras de água.
Além do assentamento Eldorado II, o estudo também foi realizado em outras seis localidades do Cerrado brasileiro, revelando a presença de pelo menos um resíduo de agrotóxico. As comunidades suportadas são: Barra da Lagoa, em Santa Filomena (Piauí); Acampamento Leonir Orback, em Santa Helena (Goiás); Comunidade Geraizeira, em Formosa do Rio Preto (Bahia); Território Tradicional Serra do Centro, em Campos Lindos (Tocantins); Território Cocalinho, em Parnarama (Maranhão); e Comunidade Cumbaru, em Nossa Senhora do Livramento (Mato Grosso).
A contaminação por agrotóxicos nas amostras de água dessas localidades do Cerrado brasileiro representa um grave problema ambiental e de saúde pública. A utilização indiscriminada de agrotóxicos nas atividades agrícolas tem impactos negativos no ecossistema e na qualidade de vida das comunidades que dependem dessas fontes de água para diversas finalidades, como irrigação, pesca, dessedentação animal, recreação e uso doméstico.