Em Campo Grande 8.470 crianças de 0 a 3 anos aguarda uma vaga nas creches

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Nesta segunda-feira (19), a Câmara dos Vereadores de Campo Grande se tornou o palco de um ato simbólico e carregado de significado político: mais de 500 folhas, contendo os nomes de 8.470 crianças de 0 a 3 anos que aguardam por vagas em creches, cobriram as rampas do plenário principal. O cenário foi parte da audiência pública convocada para discutir a crescente crise na educação infantil, reunindo especialistas, representantes sindicais, membros da Secretaria Municipal de Educação (Semed) e a sociedade civil.

A vereadora Luiza Ribeiro (PT), que preside a Comissão Permanente de Políticas e Direitos das Mulheres, de Cidadania e Direitos Humanos, destacou a gravidade da situação, informando que, apenas neste ano, a lista de espera por vagas em creches cresceu em 2 mil nomes, saltando de pouco mais de 6 mil para as atuais 8 mil crianças. “Essas folhas simbolizam a urgência de medidas grandiosas para atender a essa demanda, que é um reflexo da importância que as famílias dão à educação infantil”, ressaltou.

O déficit é tal que, segundo a Comissão, seria necessária a construção imediata de 34 novas escolas de educação infantil para evitar o inchaço nas turmas já existentes. “Estamos no limite das estratégias de expansão. Se não houver a construção de novas escolas, corremos o risco de prejudicar a qualidade do ensino, com salas superlotadas e comprometimento do aprendizado”, alertou a vereadora.

A audiência também trouxe à tona a mudança administrativa que transferiu a educação infantil da Assistência Social para a Semed há dez anos. Embora tenha havido avanços, o quadro atual evidencia a necessidade de soluções mais eficazes e rápidas, como defendeu a professora Mariete Felix, da Campanha Nacional pelo Direito à Educação. “Os avanços que tivemos não podem retroceder. Precisamos de políticas de crescimento que respondam à demanda real, não apenas de conveniência”, afirmou.

Angela Maria Costa, da Aliança pela Infância, lamentou o atraso do município em resolver uma questão que outras grandes cidades, como São Paulo, já solucionaram. “Não é possível que, após 36 anos de descaso, ainda estejamos discutindo o direito constitucional à educação infantil. Essas 8 mil crianças na fila são um reflexo da nossa incompetência em resolver um problema básico”, criticou.

O secretário municipal de Educação, Lucas Henrique Bittencourt, apresentou números que demonstram a dimensão do desafio. Com 206 unidades escolares e 31 mil crianças na educação infantil, a Semed enfrenta uma demanda crescente que exige soluções inovadoras. No entanto, ele se posicionou contra a privatização do ensino público, uma medida adotada por outras cidades para zerar as filas de espera. “Queremos respostas rápidas, mas sem privatizar. Precisamos de alternativas viáveis que mantenham a continuidade da rede pública”, defendeu.

O debate foi encerrado com um apelo contundente da conselheira tutelar Renata Carla Melo, que enfatizou a urgência de resolver a crise. “Temos crianças nessa lista que estão sendo abusadas ou largadas porque os pais precisam trabalhar. Essas crianças chegam ao CEINF com 4 anos carregando traumas, mas a culpa não é delas, é da nossa falha em protegê-las”, concluiu, em um apelo que ecoou a necessidade de ação imediata.

A audiência pública deixou claro que a crise na educação infantil de Campo Grande exige não apenas soluções emergenciais, mas também um comprometimento político para assegurar o direito à educação desde os primeiros anos de vida.

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