No reinado do Imperador romano Júlio César, entre o ano 100 a.C e 44 a.C foi implementada em Roma o que se convencionou chamar de política do Pão e Circo (Panem et circenses, em latim). O objetivo do governante era apaziguar a população, a plebe, através da organização de festas, eventos e distribuição de alimentos. A ideia era despolitizar a plebe e evitar questionamentos políticos aos imperadores como reivindicações ou levantes populares. Também tinham a função de aumentar a popularidade dos líderes romanos.
Mais de 2000 anos depois assistimos em Campo Grande a repetição da fórmula do Pão e Circo. A população é maltratada no transporte em ônibus que chegam a registrar 52 graus de calor, os pouquíssimos ônibus com ar-condicionado andam com o equipamento desligado para economia de combustível, como vimos em matéria recente do Campo Grande News. As unidades de saúde carecem de diversos itens indispensáveis, chega a faltar dipirona em algumas. A regulação obriga o cidadão a esperar mais tempo do que sua saúde aguenta por uma vaga para cirurgias.
Na educação infantil faltam quase 10 mil vagas em creches para abrigar as crianças enquanto os pais saem para trabalhar, um quadro que deixa claro que as oportunidades da capital não são para todos. A população tropeça em obras paradas como corredores de ônibus, a eterna rodoviária antiga, o Belas Artes, a pavimentação de ruas e outros incontáveis cemitérios de recursos públicos espalhados por toda a cidade.
A prefeitura parece não ter um plano de contingência para a ocorrência de desastres. No lamentável episódio do incêndio da comunidade do Mandela a gestão municipal, em nota oficial após a tragédia, diz que “estamos estudando o melhor equipamento público para abrigar temporariamente aqueles que necessitem”. Ora, “estamos estudando?” Então não há um plano de contingenciamento para cada região de cidade que aponte para onde as pessoas devam ser encaminhadas em acidentes como esse? As coisas são resolvidas no calor dos acontecimentos?

Em breve chega a estação de chuvas e não notamos que haja um esforço para prevenir as intercorrências que deverão ocorrer no período, um planejamento consistente, mapeamento dos riscos. O que a administração vai oferecer serão notas oficiais em solidariedade aos atingidos e “vamos estudar o que fazer”.
O que, sim, está planejado, anunciado, festejado e financiado é o nascimento do filhote do Sr. E da Sra. Rena. Está ainda em curso a decoração de Natal da cidade por 2,2 milhões de reais. Shows, atrações, pão e Circo, exatamente como há 2000 anos faziam os imperadores romanos.