BNDES concede R$ 3,7 bilhões a empresa do grupo J&F ( LHG Logística), criada há menos de 1 ano

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Mesmo com investimento bilionário do BNDES, LHG Logística demite em massa no final de 2024

A LHG Mining é uma das diversas empresas da holding J&F Investimentos, controlada pela família Batista, conhecida por seu império no setor de proteína animal, com a JBS como carro-chefe. Os irmãos Wesley e Joesley Batista, que retornaram ao conselho da JBS em março deste ano, foram investigados na Operação Lava-Jato em 2017. A família mantém uma relação próxima com os poderes Executivo e Judiciário, o que tem garantido uma série de benefícios e vitórias nos últimos meses.

A concessão do empréstimo pelo BNDES ocorre em um contexto de estreita relação entre o grupo J&F e o poder público. Wesley Batista, por exemplo, está vinculado a mais de 60 empresas, ocupando cargos como presidente, sócio ou diretor. Essa influência se reflete na capacidade do grupo de obter financiamentos e apoio governamental para seus projetos, mesmo em setores nos quais atua há pouco tempo, como a mineração.

A compra da MCR permitiu ao grupo J&F assumir o controle das minas de Santa Cruz e Urucum, localizadas em Corumbá e Ladário, no Mato Grosso do Sul. Além disso, a LHG Mining controla outras oito empresas em sete países, incluindo Áustria, China e Holanda, consolidando sua presença internacional. A holding J&F planeja investir R38,5bilho~esnoBrasilateˊ2026,comR38,5bilho~esnoBrasilateˊ2026,comR 5,5 bilhões destinados à expansão das operações e da logística da LHG Mining.

Estrutura organizacional e influência política

A estrutura organizacional do grupo J&F é marcada pela interligação de executivos e empresas. André Alcantara Ocampos, por exemplo, é presidente da MCR, diretor da J&F Investimentos e membro suplente do conselho fiscal da JBS. Já Aguinaldo Gomes Ramos Filho, sobrinho dos irmãos Batista, é administrador da LHG Mining e presidente da J&F Investimentos desde 2021. Essa rede de conexões facilita a coordenação entre as diversas frentes de atuação do grupo.

Especialistas apontam que o caso da LHG Logística reflete um modelo de desenvolvimento baseado em grandes conglomerados com forte influência política. Luis Fernando Novoa Garzon, professor da Universidade Federal de Rondônia (UNIR), destacou que a JBS foi uma das “campeãs nacionais” escolhidas durante o segundo governo Lula, beneficiada por articulações políticas. Ele ressaltou os limites enfrentados por governos progressistas diante de uma estrutura de poder neoextrativista e financeirizada, que prioriza grandes corporações.

Ana Flávia Lima, pesquisadora da Fundação Getúlio Vargas (FGV), complementou que as políticas macroeconômicas neoliberais adotadas desde a redemocratização favorecem setores como o agropecuário e a mineração. “Se as gigantes do setor agropecuário e de mineração vão bem, o mercado de capitais também vai bem. Isso eleva sobremaneira o poder político que essas empresas exercem sobre o Estado”, afirmou.

O empréstimo do BNDES à LHG Logística evidencia a continuidade de um modelo de desenvolvimento que privilegia grandes conglomerados com forte influência política e econômica. Enquanto o grupo J&F expande seus negócios e consolida seu poder em setores como mineração e logística, críticos alertam para os riscos de concentração de renda e poder, além dos limites impostos a políticas públicas mais inclusivas. O caso reforça a necessidade de transparência e equilíbrio na atuação das instituições financeiras públicas.

A LHG Logística, empresa que recebeu um empréstimo de R$ 3,7 bilhões do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) em 2023, anunciou no final de 2024 uma demissão em massa de funcionários. A medida surpreendeu o mercado, já que a empresa, vinculada ao grupo J&F, havia sido beneficiada com recursos públicos para expandir suas operações no setor de logística e mineração. O corte de vagas levanta questionamentos sobre o uso dos recursos e a eficácia dos investimentos do BNDES em grandes conglomerados.

A demissão em massa ocorre pouco mais de um ano após a LHG Logística receber o financiamento do Fundo da Marinha Mercante (FMM), vinculado ao Ministério de Portos e Aeroportos. Na época, a empresa prometeu gerar empregos e impulsionar a infraestrutura logística do país, especialmente no Mato Grosso do Sul, onde opera as minas de Santa Cruz e Urucum, herdadas da Mineração Corumbaense Reunida (MCR). No entanto, a realidade mostrou-se diferente, com centenas de trabalhadores demitidos e projetos de expansão paralisados.

Justificativas da empresa e críticas de especialistas

A LHG Logística atribuiu as demissões a “ajustes operacionais” e à “necessidade de otimização de custos diante do cenário econômico desafiador”. Em nota, a empresa afirmou que os cortes fazem parte de uma reestruturação para garantir a sustentabilidade do negócio a longo prazo. No entanto, especialistas questionam a falta de transparência e o uso dos recursos públicos. Para Luis Fernando Novoa Garzon, professor da Universidade Federal de Rondônia (UNIR), o caso expõe os riscos de concentrar investimentos em grandes conglomerados sem mecanismos eficazes de fiscalização.

Ana Flávia Lima, pesquisadora da Fundação Getúlio Vargas (FGV), destacou que o episódio reflete um padrão comum em setores como mineração e logística, onde empresas priorizam lucratividade em detrimento de compromissos sociais. “O BNDES precisa rever seus critérios de financiamento, garantindo que os recursos públicos sejam usados para gerar desenvolvimento real e não apenas para beneficiar grandes grupos empresariais”, afirmou.

Impacto social e econômico

As demissões afetaram diretamente comunidades locais, especialmente em Corumbá e Ladário, no Mato Grosso do Sul, onde a LHG Logística concentra suas operações. Muitos dos trabalhadores demitidos relataram dificuldades para encontrar novas oportunidades de emprego na região, que depende fortemente do setor de mineração. Além disso, a medida gerou desconfiança em relação aos benefícios prometidos pelo grupo J&F, que havia anunciado investimentos de R$ 38,5 bilhões no Brasil até 2026.

Reação do BNDES e do governo

O BNDES afirmou (em respostas aos questionamentos via email), que está acompanhando a situação e que cobrará explicações formais da LHG Logística sobre o uso dos recursos. O banco destacou que os financiamentos são condicionados ao cumprimento de metas e compromissos assumidos pelas empresas. Já o Ministério de Portos e Aeroportos, responsável pelo FMM, evitou comentar o caso, limitando-se a dizer que “os recursos são destinados a projetos que promovam o desenvolvimento nacional”.

Fonte de informações site Observatório da Mineração.

Este espaço foi reservado para o posicionamento da empresa. Caso haja novas declarações, o texto será atualizado.

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