A ex-secretária de Lula na Presidência da República Clara Ant, atual diretora do Instituto Lula, e sua empresa Nemala Assessoria em Planejamento Estratégico e Projetos foram alvos de buscas na 24ª fase da Operação Lava Jato deflagrada na última sexta-feira. O material recolhido pela Polícia Federal pode trazer detalhes aos investigadores sobre as palestras realizadas pelo ex-presidente para empreiteiras do cartel envolvido em corrupção na Petrobras. As suspeitas, segundo o Estadão, são que os pagamentos ocultaram propina.
“Clara Levin Ant, secretária de confiança do ex-Presidente, é possível que ela lhe confie a guarda de documentos relevantes para a investigação, ainda que não seja ela diretamente investigada”, registrou o juiz federal Sérgio Moro, ao autorizar a realização de buscas tendo como alvo a secretária do ex-presidente.
A força-tarefa do Ministério Público Federal afirma no pedido de busca a Operação Aletheia que Clara Levin Ant “é pessoa da mais estrita confiança” de Lula. “Tendo exercido a função de assessora especial do então Presidente da República (de 2003 a 2010, nos dois governos do petista). Clara Ant atualmente exerce o cargo de diretora do Instituto Lula.”
A Nemala, empresa de Clara Ant, era usada para receber seus pagamentos do Instituto. A firma recebeu R$ 292,4 mil do Instituto Lula em 2014. “Além disso, a representada atualmente exerce o cargo de diretora do Instituto Lula, tendo inclusive auferido valores da entidade: cerca de R$ 160 mil anuais, de 2011 a 2013”, informam os procuradores.
Clara Ant também atuou na eleição da presidente Dilma Rousseff, em 2010, no Comitê Financeiro Nacional para Presidente da República do PT.
Para a força-tarefa, Clara Ant “é um dos contatos do Instituto Lula com pessoas investigadas na Operação Lava Jato”. Ao todo, dos R$ 35 milhões recebidos pelo órgão entre 2011 e 2014, R$ 20 milhões (60%) foram pagos por cinco empresas acusadas de corrupção na Petrobras: Camargo Corrêa, OAS, Odebrecht, Queiroz Galvão e Andrade Gutierrez.
A Lava Jato montou duas tabelas com os maiores pagadores da LILS e do Instituto Lula entre 2011 e 2014. Na empresa de palestras do ex-presidente, a Odebrecht é a maior pagadora: R$ 3 milhões. Na sequência vem: Andrade Gutierrez (R$ 2,1 milhões), Camargo Corrêa (R$ 2 milhões), Queiroz Galvão (R$ 1,2 milhão) e OAS (R$ 1,1 milhão).
A análise dos dados fiscais do Instituto Lula, por sua vez, demonstra que seus cinco maiores doadores são exatamente as mesmas empresas”, informa o MPF. E lista os doadores e valores, enter 2011 e 2014: Camargo Corrêa (R$ 4,7 milhões). Odebrecht (R$ 4,6 milhões), Queiroz Galvão (R$ 3 milhões), OAS (R$ 2,7 milhões) e Andrade Gutierrez (R$ 2,7 milhões).
A LILS tem em seu quadro dois sócios, Lula e o presidente do Instituto Lula, Paulo Okamotto – que foi alvo de pedido de prisão temporária, convertido por Moro em condução coercitiva. Relatório da Receita Federal, anexado aos autos da Operação Aletheia, indica que entre 2011 e 2014, o lucro distribuído aos sócios foi de R$ 7,5 milhões ao ex-presidente e de R$ 749 mil a Okamotto.
Para a Lava Jato, “essa identidade entre a origem e o destino do dinheiro que circulou pelas duas entidades entre 2011 e 2014 reforça a possibilidade de que o ex-presidente Lula conhecesse de onde vinham e para onde iam os recursos que trafegaram pelo instituto que leva seu nome e pela empresa de que detém 98% das cotas sociais”.
“O instituto era utilizado pelos representados não apenas como meio para o recebimento de recursos, ao que tudo indica, dissimulados de doações, como também emprestava sua estrutura, em completo desacordo com a finalidade jurídica por si sustentada, para possibilitar o funcionamento da LILS Palestras e Eventos e Publicações”, sustentam os procuradores, no pedido de busca e apreensão nos alvos ligados ao ex-presidente.
“Impende realizar a medida cautelar de busca e apreensão na residência da representada, e na sede da empresa com a qual ela possui vínculo administrativo e/ou societário.”
Foram autorizados ainda, pelo juiz Sérgio Moro, as análises de pelo menos dois endereços de e-mails em nome de Clara Ant e outros usados por funcionários do Instituto Lula. O objetivo é identificar trocas de mensagens sobre as contratações de palestras feitas pelo ex-presidente. A suspeita é que algumas delas possam ter servido para ocultar propina de empreiteiras.
O Instituto Lula, por meio de nota divulgada na sexta-feira, 4, negou irregularidades nos recebimentos de palestras pelo ex-presidente, via empresa LILS, e no financiamento do instituto. Clara Ant não foi localizada para comentar as investigações.