O Grupo de Atuação Especial de Repressão ao Crime Organizado (Gaeco) deflagrou a Operação Bloodworm no dia 5 deste mês, visando desmantelar o Comando Vermelho no estado. A operação dependia de um grupo composto por quatro advogados e um estagiário, conhecido como “gravatas”, que estariam ligados à facção criminosa.
Dos membros do grupo, dois advogados eram de Campo Grande, um estagiário de Dourados e uma advogada de Várzea Grande, no Mato Grosso, que exerceu uma influência significativa dentro da facção. Ela foi convocada para momentos críticos e para resolver questões internas do grupo criminoso.
Um dos advogados de Campo Grande teve suas ligações interceptadas, revelando conversas com um chefe do setor de Recursos Humanos do Comando Vermelho sobre o valor de venda da droga, referindo-se a ela como “feijão” para evitar suspeitas. O valor estava sendo negociado entre R$ 600 e R$ 700 por quilo.
Em uma das conversas, o chefe do RH orienta um dos fornecedores a entrar em contato com o advogado para resolver os detalhes do transporte e da negociação da droga. Nas palavras dela: “Ele ficou meio com receber de te ligar porque expliquei algumas situações. Ele me pediu para entrar em contato com você e passar o número dele. Ele te explica melhor. O frete dela para cá está bom, entendeu? Mas eu garanto que já tem algumas delas aqui, então é só conversar para saber como estão sendo os procedimentos. Se você quiser, eu passo o número do doutor XXX”.
Em outra conversa entre o chefe do RH e o advogado, ele demonstra preocupação com o valor repassado ao tráfico na negociação da droga, afirmando que ambos precisam ganhar algo com isso: “Uma pergunta, dona XXX. O que a senhora acha que pode fazer com aquela questão do XXX? Acho que eu passei os valores para a senhora. O que a senhora acha que dá para fazer ali? Até porque eu e a senhora precisamos ganhar alguma coisa também, não é? Ganhar junto é diferente, entendeu?”
Além disso, outra advogada estaria envolvida na fuga de dois presos membros da facção de Rio Brilhante para Três Lagoas. Os advogados foram internados pelo Comando Vermelho para auxiliar os membros presos, levando itens de higiene, negociando drogas e até armas para a organização criminosa.
Um informativo circulou em grupos de WhatsApp do Comando Vermelho cobrando mensalidades de R$ 50 dos membros, destinados à “manutenção das ajudas”. O chefe do RH foi apontado como protegido nas vendas, aquisição e solicitação de amostra de drogas.
Na denúncia do Gaeco, um policial penal é apontado como o “Contador CV” com ligações estreitas com o filho do chefe do RH da facção em Mato Grosso do Sul. Esse policial, preso durante a operação, seria responsável por negociar com os detentos a entrada de celulares no presídio.
Segundo a denúncia, o chefe do RH estava carregado de entregar os celulares ao policial penal, que os repassaria aos detentos. Foi revelado no setor “Coletes” da facção que o agente se encontrava com o chefe do RH para receber os celulares que entravam na Gameleira.
A declaração enfatiza que, ao substituir de cumprir sua função constitucional, o policial penal colocou-se a serviço de presos de alta periculosidade, utilizando sua posição para inserir telefones no presídio em benefício das principais lideranças do Comando Vermelho, enriquecendo ilicitamente por meio do recebimento de vantagens ilimitadas.
Durante a operação, outro agente foi detido por posse de munições estrangeiras, mas foi solto após pagar fiança de R$ 1.500. As buscas realizadas na casa do policial, na Vila Carvalho, resultaram na apreensão de 11 munições .38 de origem estrangeira.
Essa operação revela a complexidade e a extensão das conexões entre membros da facção criminosa e advogados, bem como o envolvimento de um policial penal no esquema de entrada de celulares no presídio.