Sinais sutis como agressividade, falta de apetite e isolamento social podem indicar que algo está errado na vida de uma criança ou adolescente. Segundo a pedagoga e diretora de uma escola em Brasília, Carol Cianni, o abuso sexual é uma das causas desses comportamentos, e o crescimento desse tipo de crime no Brasil é alarmante. Apenas nos primeiros quatro meses deste ano, foram registradas 17,5 mil violações sexuais contra crianças e adolescentes pelo Disque 100, um aumento de quase 70% em relação ao mesmo período de 2022, de acordo com dados do Ministério dos Direitos Humanos e Cidadania.
No total, nesse período, foram registradas 69,3 mil denúncias e 397 mil violações de direitos humanos de crianças e adolescentes, das quais 9,5 mil denúncias e 17,5 mil violações envolvem violências sexuais físicas, como abuso, estupro e exploração sexual, além de violências psíquicas. Entre os piores cenários estão as residências das vítimas, dos suspeitos ou de familiares, com quase 14 mil violações. Também foram registradas 763 denúncias e 1,4 mil violações sexuais ocorridas na internet. No ambiente virtual, ocorreram exploração sexual (316 denúncias e 319 violações), estupro (375 denúncias e 378 violações), abuso sexual físico (73 denúncias e 74 violações) e violência sexual psíquica (480 denúncias e 631 violações).
Esses dados foram divulgados pelo Ministério dos Direitos Humanos e da Cidadania (MDHC) em comemoração ao Dia Nacional de Enfrentamento ao Abuso e à Exploração Sexual de Crianças e Adolescentes, celebrado nesta quinta-feira (18).
Identificar que uma criança ou adolescente está sofrendo algum tipo de violência sexual é fundamental para intervir e protegê-los. A pedagoga Carol Cianni destaca que a família e a escola desempenham um papel crucial na prevenção. Segundo ela, abordar o tema de forma leve e assertiva na sala de aula, explicando que o corpo é algo íntimo e sagrado, ajuda os alunos a compreenderem a importância de proteger-se. Além disso, a escola deve estar atenta a quaisquer mudanças no comportamento dos alunos para agir rapidamente.
“Na escola, os professores observam tudo: como a criança brinca, como ela se alimenta, como ela deita para relaxar na hora do descanso e como se relaciona com os colegas. Então, temos uma observação atenta a todos os detalhes do comportamento da criança para que a gente possa ajudá-la. Isso porque os pedidos de socorro dos pequenos vêm de forma muito sutil”, explica Carol Cianni. A psicóloga Caroline Brilhante também destaca que a maioria dos abusos contra crianças e adolescentes é praticada por pessoas próximas à vítima e em ambientes familiares conhecidos, ressaltando a importância de estar sempre alerta.
Ela enfatiza que monitorar e restringir o acesso à internet pode evitar que a criança se exponha a situações de risco. “Uma das formas de prevenir é limitar o tempo de uso da criança na internet e até mesmo dos adolescentes. É importante implementar filtros de acesso a conteúdos fora da faixa etária. Devemos prestar atenção no interesse repentino da criança ou do jovem em relação a assuntos sexuais, pois isso pode indicar algum problema”, salienta.
Qualquer denúncia de abuso sexual ou violação dos direitos humanos pode ser feita de forma anônima e gratuita pelo Disque 100.