Trajetórias distintas, mas sobretudo inspiradoras, revelam a vida de grandes mulheres que hoje, além de comporem o quadro das Forças de Segurança Pública do Estado, se destacam como exemplo de competência e determinação, cumprindo com excelência o serviço à população.
Cargos antes exclusivamente masculinos, hoje contam com a presença feminina. Em Mato Grosso do Sul, entre os exemplos desta realidade, está a subcomandante da Polícia Militar, Neidy Nunes Barbosa Centurião, a primeira mulher a assumir esta função e também a primeira policial a conquistar a mais alta patente da corporação, a de Coronel.
Em outro exemplo inspirador do “sexo nada frágil” é o cargo para delegado-geral-adjunto da Polícia Civil, desde 2021 função desempenhada pela delegada Rozeman Geise Rodrigues de Paula. Em 39 anos de história da Instituição, apenas duas mulheres assumiram este posto, o mais importante da Polícia Civil, e Rozeman é uma delas.
Indo da terra para o ar, em outro cenário majoritariamente masculino, está a capitã da Polícia Militar, Letícia Raquel Lopes Ramos, há dois anos atua como piloto de avião, integrando o Grupo de Patrulhamento Aéreo (CPA), serviço ostensivo de policiamento do Estado, subordinado à Secretaria de Estado de Justiça e Segurança Pública (Sejusp).
No Dia das Mulheres, conhecer histórias reais de luta e determinação, inspiram e motivam outras mulheres a darem seu melhor todos os dias.
“Estamos ocupando os mesmos espaços e as mesmas condições. Sempre procurei fazer a minha parte, fazer o máximo que pude e hoje eu colho os resultados disto. Conquistei o meu sonho que era ser coronel da Polícia Militar. Somos os limites dos nossos sonhos, mas é preciso colocar a mão na massa”, ressaltou com orgulho da sua história a subcomandante da Polícia Militar, coronel Neidy Nunes Barbosa Centurião.
Com a simplicidade do campo, hoje a coronel Neidy faz questão de frisar que a educação no seio familiar, pautada em muitas tarefas na lida da fazenda, já aos 10 anos de idade, deram a ela tranquilidade para superar obstáculos que poderiam ter sido mais difíceis de se vencer.
Nascida na beira do Rio Taquari, em Coxim, em uma casa de madeira de pau a pique, a subcomandante da PM diz que a educação paterna era rígida, mas apesar disso também trazia o elogio como uma grande recompensa e tornava o esforço aprazível.
“Meu pai era duro, mas sempre conversava muito com a gente. Ele sempre nos dava serviços para fazer na fazenda. E eu comecei cedo, com 10 anos. Mas sempre que terminávamos alguma das tarefas, ele elogiava e dizia: ‘Está muito bom. Se você não tivesse feito, ainda estaria do mesmo jeito’”, lembra ela.
Depois da família se mudar para Costa Rica, o pai da subcomandante almejava para os filhos um futuro melhor e decidiu investir nos estudos, desta vez na Capital. “A consequência disso foi entrar na Polícia Militar aos 17 anos. A academia para mulheres era em São Paulo e eu fiquei lá por quatro anos”.
Ser mulher nunca foi um problema dentro da corporação, lembra a coronel. “Não havia preconceito. Pelo contrário, sempre fui acolhida. No entanto, nas ruas a história era diferente. Nem todos me respeitavam por eu ser mulher. Até mesmo durante as abordagens policiais, eu tinha que delegar o que era minha função para os meus colegas, tudo para evitar resistência contra mim”, lembra.
Vivendo de forma leve os percalços da profissão, a coronel conta que “levar na esportiva” era o melhor a ser feito. “Quando eu me deparava com algum tipo de resistência, pelo fato de ser mulher, eu sempre levava na esportiva. Então, apesar de saber que existem muitas mulheres que sofrem na profissão, é importante não desistir, não abaixar a cabeça e seguir em frente, dando sempre o melhor de si”.
Mais uma carreira de sucesso, Rozeman assumiu como delegada-geral adjunta em março de 2021. Se inspirou na família, na irmã – que também é delegada -, e hoje como adjunta da Polícia Civil se orgulha por ter preservado “valores inegociáveis” durante os anos de carreira.
“Dentro da minha profissão sempre preservei meus valores, valores inegociáveis. Valores familiares, valores que aprendi com a minha irmã, como a honestidade. Sempre trilhando meu caminho no tempo necessário, sem prejudicar os outros, respeitando o meu tempo, o meu momento e o momento dos que estavam próximos a mim. Aprendi a nunca me corromper por dinheiro ou por qualquer outra coisa. Nunca pisei em ninguém para chegar onde eu queria”, ressalta.
Pós-graduada em Gestão de Segurança Pública, Rozeman já atuou no interior do Estado e esteve à frente de unidades importantes da Polícia Civil como a Delegacia Especializada de Atendimento à Infância e Juventude (DEAIJ), Delegacia Especializada de Repressão aos Crimes Ambientais e de Atendimento ao Turista (DECAT), Academia de Polícia Civil (Acadepol), Corregedoria Geral de Polícia e Delegacia de Pronto Atendimento e Delegacia Especializada de Repressão aos Crimes de Defraudações, Falsificações, Falimentares e Fazendários (DEDFAZ).
Assim como a coronel Neidy, a delegada Rozeman lembra que o fato de ser mulher, em momento algum, foi um problema dentro da Instituição. “Nunca passei por episódios de preconceito, pelo contrário, sempre vivi o respeito e sempre fui respeitada”, frisa. “Sabemos que muitas mulheres ainda passam por isso, mas a história tem sido mudada e levantar a cabeça é necessário”.
Rozeman fez questão de ressaltar que “não foi fácil conciliar a vida de mãe, esposa e profissional. Mas sempre soube que seria difícil. Se fosse fácil, qualquer um faria”.
Aos 37 anos, a capitã Letícia é hoje uma das poucas mulheres piloto das Forças de Segurança do Estado. Integrante do Grupo de Patrulhamento Aéreo (CPA), a capitão relata que a influência começou cedo, ao lado do pai, também profissional da aviação, piloto privado. Apesar do contato com o universo aéreo ainda na infância, o primeiro sonho de Letícia foi se tornar militar, a aviação surgiu depois.
“Desde pequena eu sempre quis ser militar e o sonho da aviação nasceu anos depois, por influência direta do meu pai. Eu entrei na PM aos 23 anos. Um dia meu pai viu uma mulher piloto do Corpo de Bombeiros e me disse ‘você devia tentar’”, lembra ela.
A capitão decidiu ouvir a voz paterna, mas antes precisaria subir alguns degraus. “Meu pai levava eu e meus irmãos para voar com ele e eu já estava bem acostumada. Quando ele me disse que deveria tentar ser piloto, naquele momento, eu acreditei que poderia ser feliz na aviação. Um dia, durante uma operação do Grupamento, estive próximo aos pilotos e aquilo tudo me encantou. Mas ainda soldado da PM, eu tive que fazer o Curso de Formação de Oficiais (CFO), já que somente oficiais poderiam ser do grupo de aviação”.
Depois do CFO, a capitã Letícia fez o curso teórico da Agência Nacional de Aviação Civil (ANAC), no contra turno do serviço na PM. Enfim, chegou a a formação prática e já são dois anos no GPA. Hoje, mãe de uma menina de 1 ano e 10 meses, a capitã se sente realizada. “Meu sonho era ser militar e depois aviadora. Sou feliz pelas minhas conquistas”.
Luciana Brazil, Sejusp