Processo de cassação de Cunha teve assinatura falsa de deputado

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Na tentativa de frear o processo de cassação do presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), foi utilizada uma assinatura falsificada de um deputado federal, segundo laudos grafotécnicos realizados a pedido do jornal Folha de S. Paulo.

A reportagem explica que os peritos analisaram a assinatura do deputado Vinícius Gurgel (PR-AP), e concluíram que na carta em que ele renuncia à vaga de titular no Conselho de Ética, documento entregue ao órgão por aliados de Cunha, há uma falsificação “grosseira” e “primária”.

Gurgel é aliado de Cunha e não estava em Brasília na noite do dia 1º de março e na madrugada do dia 2, data em que o Conselho de Ética aprovou por margem apertadíssima, 11 votos a 10, dar sequência ao processo de cassação contra o presidente da Câmara.

Os votos eram decisivos e Cunha e seus aliados queriam evitar o voto do suplente de Gurgel, um deputado do PT e contrário a Cunha. Por isso, foi preciso que Gurgel renunciasse à vaga no Conselho, o que abriria a possibilidade de o PR indicar outro deputado pró-Cunha.

Conta a Folha que a carta de renúncia de Gurgel chegou ao Conselho às 22h40. Seis minutos depois, o líder da bancada, Maurício Quintella Lessa (AL), foi indicado para a vaga e votou a favor de Cunha.

O jornal enviou para a perícia cópia da carta de renúncia de Gurgel e três assinaturas do deputado reconhecidamente autênticas, dadas em outros documentos da Câmara dos Deputados.

O Instituto Del Picchia, de São Paulo, divulgou um laudo no qual afirma que a assinatura da carta de renúncia apresenta características “peculiares às falsificações produzidas por processo de imitação lenta, quais seja, imitação servil ou decalque”, com “inequívocos índices primários das falsificações gráficas”.

Outro laudo, assinado pelos peritos Orlando Garcia e Maria Regina Hellmeister, conluiu que os exames comparativos mostram variados antagonismos gráficos que levam à conclusão de que a assinatura é “produto de falsificação grosseira”.

Respostas

A publicação refere que o deputado federal Vinícius Gurgel (PR-AP), 37, afirmou que mesmo estando fora de Brasília durante a votação deixou em seu gabinete diversas cartas de renúncia assinadas. Gurgel alega que a falsificação apontada pelos peritos pode decorrer da tremedeira por tê-las assinado de ressaca.

“Se eu assinei com pressa, se eu tava [de]porre, se eu tava de ressaca, se eu assinei com letra diferente, não vou ficar me batendo por isso”, justificou.

O deputado disse ainda que manifestou por telefone ao PR sua intenção de renúncia e que a operação de sua troca não interferiu no resultado. Gurgel não quis ver os laudos sobre a falsificação de assinatura.

“Podem ser 20, 40 [laudos]. Não tô, assim, justificando nem tirando a coisa. Eu bebo. Podia estar de ressaca. Quando a pessoa está de ressaca, não escreve do mesmo jeito, fica tremendo, acho que tinha bebido um dia antes, assinei com pressa no aeroporto, pode não ter sido igual, rabisquei lá”, explica o deputado.

Ainda segundo reportagem da Folha, Gurgel também disse que o objetivo de deixar várias cartas de renúncia no seu gabinete era impedir que o suplente do PT assumisse e votasse contra Cunha.

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