Em dezembro do ano passado, quando a situação tensa entre Dilma Rousseff e o Partido dos Trabalhadores (PT) se tornou exposta, a presidente cogitou se licenciar do PT e propor a composição de um governo suprapartidário. As revelações foram publicadas pela Folha de S. Paulo.
Dilma é filiada ao PT há 15 anos. As conversas sobre o possível afastamento do partido surgiram em meio aos debates sobre qual posição os deputados do PT deveriam adotar no Conselho de Ética da Câmara sobre o processo que pode levar à cassação do presidente da Casa, Eduardo Cunha (PMDB-RJ).
Segundo a publicação, o Planalto estava tentando convencer os três deputados petistas que integram o colegiado a votar pelo fim da investigação sobre Cunha, para evitar que ele deflagrasse o impeachment.
No entanto, o PT reagiu e o presidente do partido, Rui Falcão, pressionou publicamente seus deputados para que votassem contra o peemedebista. Cunha então perdeu no conselho e, ato contínuo, acolheu um pedido de afastamento da petista.
A Folha revela ainda que o desentendimento entre os interesses do Planalto e os da cúpula do PT ficaram evidentes. A crise política e econômica e os desdobramentos constantes da Operação Lava Jato também ajudaram a desgastar a relação entre Dilma e o partido.
Alguns dirigentes da cúpula petista atribuiam à presidente a culpa por “afundar” a sigla. Petistas chegavam a avaliar que o partido não deveria mais compartilhar “o desgaste” do governo Dilma, que vinha defendendo o ajuste fiscal proposto pelo ex-ministro Joaquim Levy (Fazenda), considerado severo, ortodoxo e inadequado pela direção do PT.
De acordo com a publicação, houve quem defendesse a ruptura completa entre a legenda e o governo. Mas o ex-presidente Lula ainda confiava em Dilma. Lula revelou à aliados que tinha como objetivos: salvar sua biografia, a imagem do PT e então o governo da presidente. Mas já admitia que, caso fosse preciso, lutaria para salvar o projeto do partido, sem Dilma.
Nesse contexto, Dilma cogitou a possibilidade de se afastar do PT. A Folha explica que a ideia era sinalizar que partidos de oposição e da base aliada poderiam, juntos, encontrar saídas para a crise. A presidente também se comprometeria a não se envolver na disputa por sua sucessão, em 2018.
No Palácio do Planalto, parlamentares da base aliada e do próprio PT debateram o assunto e chegaram ao consenso de que a estratégia até poderia render positivamente, mas poderia também ser o atalho para o isolamento completo de Dilma. A presidente decidiu então não arriscar.
Afastamento
Ainda de acordo com a Folha, embora a pior fase já tenha passado, como admitem ambos os lados, dirigentes do PT ressaltam que o partido hoje está mais distante do Planalto do que há um ano. Há uma determinação na cúpula da legenda de se posicionar sempre que a agenda do governo for contra os interesses da sigla.