Intervenções às pressas da atual gestão em ano eleitoral provoca problemas e muda a rotina de alunos e funcionários
Obras realizadas pela Prefeitura de Campo Grande a toque de caixa às vésperas da eleição têm trazido mais transtornos e problemas do que soluções para diversas escolas da Capital.
Entre as reclamações, a palavra que mais se repete é “maquiagem”, consequência de intervenções incompletas, cronogramas atrasados e problemas que as unidades de ensino não enfrentaram antes das reformas.
O exemplo que materializa a incompetência da atual gestão é o muro da Escola Municipal Professor Plínio Mendes dos Santos, no bairro Guanandi. Pintado recentemente de azul, o muro sequer passou por reparos nos trechos em que o reboco já havia caído, com os tijolos aparentes recebendo uma fina camada de tinta. O resultado é gasto de material aliado ao desperdício de mão de obra e dinheiro público.
A desorganização e má gestão de tempo do poder público municipal também afetou o dia-a-dia da Escola Municipal Abel Freire Aragão, no bairro Pioneiros. A começar pelas obras da cozinha. “A nossa cozinha está sem janela porque tiraram e não instalaram novamente. Estão preparando a comida com tudo aberto porque não tem jeito. Nesse tempo seco e vento, é poeira para tudo que é lugar lá dentro”, revela uma funcionária da unidade, que prefere manter-se no anonimato.
A mulher conta que as prateleiras da despensa, que eram de madeira firme, foram removidas com a promessa que novas de alvenaria seriam construídas na reforma. O que foi prometido não foi cumprido e, sem ter onde estocar os alimentos, foi preciso retirar prateleiras de metal da biblioteca para conservar a comida. “Conseguiram organizar as comidas ali, mas ao mesmo tempo não tem espaço para mais nada. O arroz, por exemplo, está em cima dos fogões”.
Assim como na escola do Guanandi, pontos que precisavam de reparos antes da pintura foram ignorados na cozinha da Abel Freire Aragão. “Embaixo da janela tinha um pedaço muito mofado, e foram lá e somente pintaram por cima. Não rasparam, não aplicaram massa corrida, nada. Do jeito que foi feito, vai voltar a mofar por cima da pintura daqui a alguns dias”, relata a mesma servidora.
Na tentativa de tentar abrigar alunos às pressas em ano eleitoral, a atual Prefeitura apostou na construção de salas de aulas modulares, em containers de metal revestidos com espuma. Não bastassem as denúncias de desconforto e abandono das aulas devido ao calor insuportável, o investimento de R$ 40 milhões não foi pensado para acompanhar outras intervenções necessárias que atendam esse novo contingente de alunos, como banheiros. “Colocaram mais de 100 alunos nas 4 salas novas, mas o número de banheiros é o mesmo de antes. Tem banheiros passando por reformas e estão sem pia. Tiraram as pias, improvisaram uma do lado de fora. Em um dos banheiros em reforma, teve um vazamento tão grande que acabou a água da caixa d’água e não tínhamos água para cozinhar, nos bebedouros, para fazer comida”, completa a servidora. A solução encontrada pela direção da unidade foi acionar 2 caminhões-pipas.
Com tantos problemas e desencontros, o atraso no cronograma das obras empurrou o calendário escolar, retardando o reinício das aulas. Na Escola Municipal Abel Freire Aragão, os alunos voltaram ao aprendizado somente no dia 12 de setembro, enquanto a previsão inicial era de retorno às aulas dia 2 de agosto. Ou seja, mais de 1 mês de atraso.
O mesmo acontece na EMEI (Escola Municipal de Educação Infantil) Laura de Vicuña, afetando crianças com idades acima de 4 a 5 anos. A direção emitiu um comunicado aos pais de alunos informando que o retorno presencial ocorrerá somente no dia 20 de setembro, “por causa do término dos banheiros e as salas estão ainda com forte cheiro de tintas e o pátio está impossibilitado de uso”.